Be Alright ...
— Agora não importa mais — afaste-me dele e enxuguei minhas lágrimas — Eu vou me mudar, e você vai assumir esse filho da Ananda — balancei minha cabeça negativamente — Sabe que isso não faz sentido, né? Seu pai está estragando a sua vida!
— Eu sei — disse, com seus olhos marejados — Sei disso, Lice. Mas o que posso fazer? Tenho 18 anos mas ainda moro com meus pais. O Gil é o dono da empresa que meu pai trabalha, e por mais que sejam amigos, meu pai fica puxando seu saco, entende? Com medo de perder esse emprego. Então resolveu aliviar seu lado, ferrando o meu — suspirou — Mas não quero que vá embora chateada comigo. Me desculpa por ser tão fraco, amor, me desculpa! — ele segurou meu rosto, e se aproximou ainda mais.
— Eu estava me apaixonando cada vez mais por você — funguei — Estava gostando tanto que... — eu caminhei até minha gaveta e tirei uma carta que havia escrito antes de terminarmos. O entreguei e abaixei a cabeça — Acho que aí está um pouco do que você me fez sentir enquanto estávamos juntos.
— Eu não queria que fosse assim — disse, pegando a carta — Lembre-se sempre que é importante pra alguém, tá? E jamais duvide disso, mesmo que minha atitude seja contrária — ele suspirou, e acariciou meu rosto — Será que posso me despedir de você?
Senti que ele não falava apenas de beijos no rosto, abraço rápido ou aperto de mão. Sua expressão entregava que queria pelo menos um último beijo, e não posso negar que também queria, mas não era certo, eu não podia simplesmente fingir que tudo era como antes.
— Você tem a Ananda, agora — respirei fundo — Não quero que a machuque. A menina já parece não gostar de mim, ainda traí-la...
— Não, Li — interrompeu-me — Ela está constrangida por ser o pivô de nos separarmos. A Ananda sabe da nossa separação, amor, e é por isso que fica com vergonha de conversar com você. Mas não tem nada contra, não.
— Ela sente ciúmes, Bruno.
— Não — ele riu — Ela ainda é apaixonada pelo pai do filho dela, amor, relaxa. Não sentimos nada um pelo outro. Ela é ciente do que sinto por você — ele me puxou pela cintura, colando completamente os nossos corpos, e colou nossas testas — Não entendo porque não podemos ficar juntos — lamentou-se — Por que meu pai não escolheu o Bernardo para ser pai do filho dela.
— Seu irmão está namorando por quase quatro anos, Bruno — revirei os olhos — Aí seria pior do que separar nós dois, que ainda nem tínhamos começado nada.
— Mas eu adoraria começar — disse ele, baixo — Queria poder te buscar na sua casa para sairmos, te dar um botão de rosa sem data certa, te comprar presentes nas datas importantes, e passar o dia coladinho contigo pelo menos nos finais de semanas, que são mais tranquilos pra nós. Queria estar contigo todos os dias, e te buscar na escola...
— Isso não daria certo — interrompi — Namorando ou não, eu iria me mudar da mesma forma.
— E o nosso namoro não iria mudar, amor. Porque o que eu sinto, supera a distância.
Eu passei meus braços pelo seu pescoço, e acariciei sua nuca, sentindo nossa respiração se misturar. Queria aproveitar aquele momento ao máximo, pois sabia que quando nos soltássemos, seria definitivo. O Bruno me apertou ainda mais contra seu corpo, acabando de uma vez com a nossa distância, e então roçou nossos lábios, fazendo com que minha vontade em tê-lo aumentasse cada vez mais. Eu sentia falta de seus toques, sentia falta de tudo nele.
— Eu queria ser somente sua — confessei, quase em um sussurro, e senti uma lágrima escorrer entre nossos lábios grudados.
— E eu queria ser somente seu, aliás, eu sou — ele sorriu — Mesmo que tenha que ficar com a Ananda, eu continuo sendo seu. Meu coração é seu!
— O meu é seu, também — rocei nossos narizes.
— Quando nos veremos novamente? — perguntou — Não vou aguentar muito tempo sem te ver.
— Não sei — respirei fundo — Mas nós não vamos ficar toda vez que nos reencontrarmos. Seria insanidade!
— Quem consegue ser racional com você ao lado? — ele selou nossos lábios — Eu te amo!
Ouvir aquelas palavras me doeram muito. Sim, era tudo o que eu queria ouvir, e se fosse em outro momento, com certeza eu seria a mulher mas feliz. Mas não queria daquele jeito. O Bruno me amava, mas não poderíamos ser um do outro, não poderíamos ficar juntos. E isso doía de uma forma inexplicável.
— Eu também te amo — eu o soltei, e me afastei devagar, percebendo que se continuasse ouvindo mais alguma coisa, iria acabar desabando em sua frente, e era tudo o que não queria — Vamos indo, Bruno, vamos nos atrasar.
— Espera — rapidamente conseguiu alcançar meu braço direito, e girou-me, fazendo com que eu ficasse de frente à ele — O último beijo, Li, o último!
— Vamos nos machucar — alertei, tentando firmar minha voz — É melhor pararmos por aqui.
— Não quero! — ele segurou firme a minha cintura, e me apertou ainda mais contra o seu corpo — Eu corro esse risco por você.
— Acho que também corro esse risco por você.
O Bruno colou nossos lábios, e eu entreabri para sua língua poder encontrar com a minha, o que não demorou muito a acontecer. Eu passei meus braços novamente pelo seu pescoço, e continuamos a nos beijar como se realmente fosse o último. Era um beijo amedrontado. Acho que no fundo, ambos desejávamos nos ver novamente e sermos um do outro algum dia, e por isso dava tanto medo. Nossas línguas se enroscavam com pressa e sede, enquanto sua mão direita acariciava minha cintura por cima do vestido. Eu mordi seu lábio inferior, e ele suspirou entre o beijo, devolvendo a mordida um pouco mais forte. Encerramos o beijo ofegantes, assim que o fôlego acabou.
— Não será nosso último beijo — disse ele — Não vou te perder, Li. Não sei ainda o que vou fazer, mas não vou te perder.
— Vamos descer, Bruno, já era para estarmos no show.
Dei um passo na direção da porta, tentando ignorar a promessa que ele fizera, mas novamente foi mais rápido, segurando-me pelo braço direito.
— Eu te amo. Não esquece! — ele selou nossos lábios, e finalmente nos separamos.
O Bruno desceu na frente, e eu fui dar uma retocada na maquiagem, aproveitando para disfarçar. Minha vontade de ir ao show havia passado completamente. Se não tivesse marcado com os meus amigos, desistiria no ato. O Bruno era algo impossível pra mim, platônico, e isso me machucava cada vez mais. Toda vez que eu o olhava, era como se alguma coisa esfregasse na minha cara que não poderia ser meu.